A vocação norte-riograndense para produzir instrumentistas de calibre
está intimamente ligada à trajetória da Escola de Música da UFRN, uma
cinquentona cheia de vitalidade cujo marco inicial de criação aconteceu
exatamente no dia 9 de março de 1962 - solenidade protagonizada pelo
então reitor Onofre Lopes e por Waldemar de Almeida, professor de
música, pianista e primeiro diretor. A data pode não ser a oficial,
afinal a Escola só foi incorporada oficialmente à Universidade Federal
em outubro daquele mesmo ano, mas é um fato que permanece vivo na
memória de três testemunhas que contribuíram para sua concepção: o
historiador e pesquisador Cláudio Galvão, a professora de piano Nilda
Guerra Cunha Lima e Luíza Maria Dantas, também pianista e segunda
diretora da instituição.
A programação para comemorar as Bodas de Ouro estão agendadas para
outubro, informou Zilmar Rodrigues, atual diretor da EMUFRN. "Vamos
formar uma comissão para definir essa programação, que deverá se
estender ao longo do mês de outubro", adiantou.
Os primórdios da
Escola remontam ao ano de 1961, quando Cláudio Galvão participava do
Clube do Violão e era da diretoria da Sociedade Cultural Musical.
"Quando a primeira fase do Instituto de Música encerrou as atividades, o
Dr. Onofre (Lopes) convidou a Sociedade para elaborar a criação da
Escola de Música", relembra Galvão. "E como Waldemar (de Almeida) tinha
sido diretor do Instituto e professor da maioria dos músicas da cidade
naquela época, seu nome foi naturalmente lembrado", complementou o
pesquisador, enquanto folheava o livro número 1 de ATAs. "O documento
formalizando a fundação se perdeu, mas nesse livro tem os principais
registros entre 1962 e 1969." Uma curiosidade: está anotada no dia 27 de
abril de 1962 a palestra que Cláudio Galvão ministrou sobre música.
"Foi a primeira palestra sobre o tema proferida por um potiguar",
orgulha-se. O tema: "Música nas civilizações orientais".
A
primeira sede da EMUFRN, que começou as atividades como escola de ensino
médio técnico em música, funcionou em um imóvel que pertenceu a
Waldermar de Almeida na esquina da av. Floriano Peixoto com a rua
Seridó. Em seguida, para atender a crescente demanda, mudou-se para um
sobrado na rua Potengi, também em Petrópolis; e antes de se instalar
definitivamente no Campus Central ainda passou pela rua Mipibu, onde
permaneceu até início da década de 1990.
Pesquisador incansável,
Cláudio Galvão está revirando arquivos para contar um pouco dessa
história através da biografia de Waldemar de Almeida. Galvão, que já
publicou biografia do primo e afilhado de Waldemar, o também pianista
Oriano de Almeida, foi professora da História da Arte e o primeiro chefe
do Departamento de Artes da UFRN. Ele lembra que fez questão de incluir
no currículo disciplina Música Popular Brasileira: "Salvo engano, foi a
primeira universidade do Brasil a tratar do assunto. Estava atendendo
um pedido de (canto e compositor) Sílvio Caldas, que havia dado
entrevista dizendo que morreria feliz se a música brasileira fosse
ensinada na universidade."
GRANDES PIANISTAS
Outra
personagem dessa história é Nilda Guerra Cunha Lima. Professora de
piano aposentada, dedicou três décadas ao ensino de música e lembra das
dificuldades para criar a Escola: "Foi uma luta grande, tivemos grande
resistência interna de pessoas que não viam a música como parte da
academia", recorda. "Com o fechamento do Instituto de Música fechou,
Natal ficou sem nenhuma escola mesmo havendo necessidade: naquela época,
as moças da sociedade estudavam piano, as casas tinham o instrumento em
vez de computadores, e o Dr. Onofre (Lopes) propôs a estruturação da
Escola, era um homem de visão, comprometido com a sociedade." Segundo
Nilda, Onofre Lopes era amigo do casal Mandel Fried e fez o convite para
Riveca (Riva) Mandel Fried, pianista, articular a formatação do
projeto. "A vocação do RN para formar bons instrumentistas deve muito a
essa primeira turma de professores e fico feliz de participado disso.
Hoje a EMUFRN é um mundo!"
A professora aposentada Luíza Maria
Dantas, segunda diretora da instituição, pela qual esteve à frente por
15 anos (entre 1967 e 1981), se emociona ao relembrar do velhos tempos:
"Foi na minha gestão que conseguimos diversificar os cursos, só não
tínhamos harpa e sanfona, e em 1968 a EMUFRN foi eleita a melhor do
Brasil pela Ordem dos Músicos do Rio de Janeiro." Ela contou que
realizava serenatas no período natalino com o coral Madrigal, sob a
janela de autoridades potiguares: "É na Escola que está mais da metade
da minha vida", disse sem conter as lágrimas.
Fonte: Tribuna do Norte
sexta-feira, 9 de março de 2012
50 anos da Escola de Música da UFRN
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