sexta-feira, 9 de março de 2012

50 anos da Escola de Música da UFRN

A vocação norte-riograndense para produzir instrumentistas de calibre está intimamente ligada à trajetória da Escola de Música da UFRN, uma cinquentona cheia de vitalidade cujo marco inicial de criação aconteceu exatamente no dia 9 de março de 1962 - solenidade protagonizada pelo então reitor Onofre Lopes e por Waldemar de Almeida, professor de música, pianista e primeiro diretor. A data pode não ser a oficial, afinal a Escola só foi incorporada oficialmente à Universidade Federal em outubro daquele mesmo ano, mas é um fato que permanece vivo na memória de três testemunhas que contribuíram para sua concepção: o historiador e pesquisador Cláudio Galvão, a professora de piano Nilda Guerra Cunha Lima e Luíza Maria Dantas, também pianista e segunda diretora da instituição.

A programação para comemorar as Bodas de Ouro estão agendadas para outubro, informou Zilmar Rodrigues, atual diretor da EMUFRN. "Vamos formar uma comissão para definir essa programação, que deverá se estender ao longo do mês de outubro", adiantou.

Os primórdios da Escola remontam ao ano de 1961, quando Cláudio Galvão participava do Clube do Violão e era da diretoria da Sociedade Cultural Musical. "Quando a primeira fase do Instituto de Música encerrou as atividades, o Dr. Onofre (Lopes) convidou a Sociedade para elaborar a criação da Escola de Música", relembra Galvão. "E como Waldemar (de Almeida) tinha sido diretor do Instituto e professor da maioria dos músicas da cidade naquela época, seu nome foi naturalmente lembrado", complementou o pesquisador, enquanto folheava o livro número 1 de ATAs. "O documento formalizando a fundação se perdeu, mas nesse livro tem os principais registros entre 1962 e 1969." Uma curiosidade: está anotada no dia 27 de abril de 1962 a palestra que Cláudio Galvão ministrou sobre música. "Foi a primeira palestra sobre o tema proferida por um potiguar", orgulha-se. O tema: "Música nas civilizações orientais".

A primeira sede da EMUFRN, que começou as atividades como escola de ensino médio técnico em música, funcionou em um imóvel que pertenceu a Waldermar de Almeida na esquina da av. Floriano Peixoto com a rua Seridó. Em seguida, para atender a crescente demanda, mudou-se para um sobrado na rua Potengi, também em Petrópolis; e antes de se instalar definitivamente no Campus Central ainda passou pela rua Mipibu, onde permaneceu até início da década de 1990.

Pesquisador incansável, Cláudio Galvão está revirando arquivos para contar um pouco dessa história através da biografia de Waldemar de Almeida. Galvão, que já publicou biografia do primo e afilhado de Waldemar, o também pianista Oriano de Almeida, foi professora da História da Arte e o primeiro chefe do Departamento de Artes da UFRN. Ele lembra que fez questão de incluir no currículo disciplina Música Popular Brasileira: "Salvo engano, foi a primeira universidade do Brasil a tratar do assunto. Estava atendendo um pedido de (canto e compositor) Sílvio Caldas, que havia dado entrevista dizendo que morreria feliz se a música brasileira fosse ensinada na universidade."

GRANDES PIANISTAS

Outra personagem dessa história é Nilda Guerra Cunha Lima. Professora de piano aposentada, dedicou três décadas ao ensino de música e lembra das dificuldades para criar a Escola: "Foi uma luta grande, tivemos grande resistência interna de pessoas que não viam a música como parte da academia", recorda. "Com o fechamento do Instituto de Música fechou, Natal ficou sem nenhuma escola mesmo havendo necessidade: naquela época, as moças da sociedade estudavam piano, as casas tinham o instrumento em vez de computadores, e o Dr. Onofre (Lopes) propôs a estruturação da Escola, era um homem de visão, comprometido com a sociedade." Segundo Nilda, Onofre Lopes era amigo do casal Mandel Fried e fez o convite para Riveca (Riva) Mandel Fried, pianista, articular a formatação do projeto. "A vocação do RN para formar bons instrumentistas deve muito a essa primeira turma de professores e fico feliz de participado disso. Hoje a EMUFRN é um mundo!"

A professora aposentada Luíza Maria Dantas, segunda diretora da instituição, pela qual esteve à frente por 15 anos (entre 1967 e 1981), se emociona ao relembrar do velhos tempos: "Foi na minha gestão que conseguimos diversificar os cursos, só não tínhamos harpa e sanfona, e em 1968 a EMUFRN foi eleita a melhor do Brasil pela Ordem dos Músicos do Rio de Janeiro."  Ela contou que realizava serenatas no período natalino com o coral Madrigal, sob a janela de autoridades potiguares: "É na Escola que está mais da metade da minha vida", disse sem conter as lágrimas.


Fonte: Tribuna do Norte

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