Boicote. Isso foi o que propôs a nota da Rede de Músicos Independentes de Natal (REMUIN) que circulou semana passada nas redes sociais. A rede discorda de alguns pontos do edital de seleção das atrações musicais do carnaval de Natal deste ano, elaborado pela Prefeitura, através da Fundação Capitania das Artes (Funcarte).
A ação poderia gerar um esvaziamento da programação se os artistas do seguimento não se inscrevessem. As inscrições se encerraram na última quinta-feira (14) e, segundo a Funcarte, foram 37 inscritos. Essas inscrições ainda vão ser avaliadas pela comissão de seleção para saber se estão dentro do regulamento. Ao todo serão selecionadas 20 atrações.
A nota publicada pela rede faz várias críticas ao tratamento dado pela prefeitura aos músicos natalenses, como o privilégio dado aos artistas nacionais em detrimento dos locais, com estrutura, cachês e divulgação diferenciada; dificuldade para inserir pessoas indicadas pelo segmento na curadoria e seleção de projetos; falta de interesse do representante da classe musical em dialogar com os músicos; falta de interesse da instituição em incentivar a produção e difusão da produção autoral em seus editais, dentre outros.
O principal ponto de discordância
De acordo com a nota publicada pela rede, o edital da prefeitura não valoriza a diversificada cena de musica autoral da cidade, que abrange gêneros como rock, pop, reggae, eletrônico, forró, jazz, dentre outros, ao pedir que os trabalhos autorais se adequem aos festejos carnavalescos, como mostra o ponto 2.4 do referido texto:
“Será aceita a multiplicidade de gêneros musicais na composição do repertório, respeitando preferencialmente a adequação aos festejos carnavalescos, desde que estes constem devidamente relatados na sua ficha de inscrição”.
“Alguns polos já têm um perfil e resolvemos respeitar isso. Normalmente o Centro Histórico é o espaço onde acontecem as apresentações que saem dos ritmos tradicionais de carnaval. É onde há um perfil multicultural, que a gente tenta manter. Mas com o contingenciamento tivemos que reduzir o número de palcos e atrações não só lá, como em todos os polos. Ano passado houve uma programação no Centro Histórico com dois palcos e shows de diversos gêneros, mas neste ano nos restou reduzir a programação a apenas um palco no domingo”, diz o maestro.
“O que eu posso dizer é que acho a ideia do boicote uma atitude estranha, mas respeito. As pessoas precisam olhar em volta a situação financeira atual. Já tivemos que selecionar só 20 artistas locais pelo edital, menos que no ano passado. O que pudemos melhorar foram os cachês, que vão de R$5 mil para R$6 mil. Tivemos que nos adaptar com o orçamento menor, sem deixar de realizar um bom carnaval para a população”, explica.
A Rede de Músicos Independentes de Natal vai se reunir no dia 19 de janeiro para fazer uma avaliação do momento atual da cultura na cidade e planejar ações para o primeiro semestre de 2016.
O grupo busca estreitar o diálogo com o poder público, a exemplo do que acontece com os setores do audiovisual e teatro, que conseguem se articular e dar continuidade a ações que desenvolvam seus segmentos.
Texto da REMUIN na íntegra
BOICOTE AO EDITAL DO CARNAVAL MULTICULTURAL DE NATAL 2016.
POR UM CARNAVAL QUE NÓS QUEREMOS!
Um novo ano inicia, mas algumas coisas permanecem iguais. Não é novidade para ninguém a luta que os artistas da cidade travam cotidianamente para ocupar os escassos espaços que a prefeitura oferece em seus editais. Na música, de evento a evento, acontece sempre o mesmo:
1. As atrações ditas “nacionais” são sempre privilegiadas (quanto a estrutura oferecida, divulgação nas mídias, horários dos shows e os valores dos cachês);
2. A ínfima visibilidade oferecida aos artistas que produzem seu trabalho na cidade é dada de forma cada vez mais burocrática, negligente, limitada e segregadora, chegando a dificultar (e, muitas vezes, impedir!) que se mostre seu trabalho como verdadeiramente é;
3. Está cada vez mais difícil inserir pessoas indicadas pelos segmentos artísticos e pela sociedade civil nas curadorias e seleções;
4. Os projetos e materiais enviados pelos artistas à Capitania das Artes são mal armazenados (alguns até perdidos) e mal avaliados (muitos discos não são escutados pelos curadores internos da FUNCART);
5. Os períodos de recurso para os projetos inabilitados não são respeitados;
6. O representante do segmento musical dentro da instituição já mostrou em várias ocasiões total falta de interesse em dialogar com a classe artística potiguar e escutar suas sugestões, necessidades e demandas. O maestro parece manter seus ouvidos fechados para as diversas cenas existentes na cidade, mas elas gritam, pulsam e não podem mais ser ignoradas.
7. Não é uma preocupação do poder público municipal incentivar a criação de obras inéditas e a produção autoral em seus editais. A difusão dos trabalhos, assim como a formação dos profissionais da música também não são contempladas nas chamadas públicas.
O edital publicado que rege o carnaval 2016 da cidade não fica fora dessa. Traz consigo o mesmo do mesmo, complicando ainda mais quando permite que cada MEI só pode inscrever seu próprio trabalho. Atire a primeira pedra aquele que nunca teve dificuldade de suprir tudo que era requerido nesses editais. Sem falar no falso termo MULTICULTURAL. O critério trazido no edital como relevância, para que os trabalhos que sejam “adequados aos festejos carnavalescos”, limita a característica multi-gênero que se pode obter. Com tudo isso, a Rede de Música Independente de Natal - REMUIN, apresenta seu repúdio e declara o boicote ao edital do CARNAVAL MULTICULTURAL DE NATAL nº 003/2016.
As secretarias e fundações de cultura têm a obrigação de oferecer um carnaval com programação DIVERSIFICADA para sua população, assim como estimular a participação da sociedade civil na construção de uma identidade cultural múltipla e mutável.. Consideramos todas as manifestações musicais realizadas na cidade “adequadas” e capazes de concorrer ao chamamento público do Carnaval Multicultural de Natal 2016 nº 003/2016 e vislumbramos um futuro próximo onde todos os estilos musicais, expressões artísticas, gêneros, raças e classes sociais ocuparão juntos os palcos e ruas da capital potiguar.
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Fonte: Portal Apartamento 702
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